Mauricio Figueiredo

Educação, recursos humanos e o melhor do et cetera

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

O perdão do ator e o falso testemunho




O ator Vinícius Romão de Souza, de 26 anos, foi injustamente acusado de ter cometido um furto por uma copeira. Ele na saída de seu trabalho, como gerente de uma loja em um shopping, foi abordado por um policial e levado para a delegacia, na qual a mulher que tivera sua bolsa roubada com alguns pertences, depois de uma certa dúvida e da insistência policial o apontou como sendo o ladrão.

Levado para um presídio, ele lá ficou preso por 16 dias até, por ação de seus amigos, ter conseguido o mandato de soltura, com a copeira admitido seu equívoco. Chamou a atenção o fato do ator da Globo ser negro, mostrando o quanto o preconceito e racismo está presente na sociedade brasileira.

Ao ser solto, Vinícius Romão, em um ato de grandeza, tão pouco comum em nosso mundo marcado pelo ódio e pela vingança, aceitou o pedido de perdão da mulher, alegando que ela estava nervosa com o assalto e acabou cometendo o equívoco. Da mesma maneira, ele agradeceu aos amigos, afirmando que "eu tinha certeza que os meus amigos estavam fazendo de tudo. Eles sabem da minha índole e isso me dava força."

E, por fim, uma declaração que cala fundo a todos que lutam por um mundo mais justo e no qual as pessoas tenham o direito legítimo de defesa e a cor da pele não seja, por si, base para qualquer tipo de incriminação. Romão disse que nos 16 dias de prisão ilegal pelo Estado ficou amontoado em uma cela com outros presos, em péssimas condições, tendo recebido por ironia um uniforme com os dizeres "ressocialização", mas sem o direito sequer a leitura de um simples livro.

Aprovação Automática para Vinícius Romão de Souza e sua lição de vida.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Mensalão tem reviravolta no STF






O Supremo Tribunal Federal (STF) absolveu o ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu, o ex-presidente do PT José Genoino, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e mais cinco réus do crime de formação de quadrilha no mensalão. Com a decisão, o núcleo petista Dirceu, Delúbio e Genoino ficarão livre do cumprimento de pena pelo regime fechado.
A reviravolta é apontada como uma grande derrota do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, desde o início do julgamento. Ainda faltam os votos de outros quatro ministros, mas dificilmente o resultado de hoje será alterado. A mudança na composição do STF, com ingresso de novos membros, em substituição a anteriores, permitiu a reviravolta.
Em 2012, os réus haviam sido condenados por 6 votos a 4 por esse tipo de delito, mas agora conseguiram reverter a condenação por meio dos embargos infringentes. Foram decisivos os  votos dos ministros Luís Roberto Barroso e Teori Zavascki,  que não participaram da fase inicial do julgamento, no segundo semestre de 2012. Eles acompanharam os votos dos ministros Ricardo Lewandowski, Dias Tóffoli, Rosa Weber e Cármen Lúcia.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

A facilidade de se prender os negros


A prisão do ator Vinícius Romão, apontada como consequência da discriminação racial disfarçada existente no país, coloca em  questionamento a forma com que uma pessoa pode ser colocada na prisão, bastando para isso uma simples acusação por parte da pessoa considerada vítima. O fato do ator ser negro, na avaliação de muitos, facilitou o seu aprisionamento por 16 dias, sem direito à defesa. Para alguns, o episódio demonstra também que assim como o ator, muitas pessoas possam estar encarcerada por delitos que não cometeram. Romão ao ser solto declarou que não guarda rancor contra a acusadora, alegando que ela estava nervosa e "infelizmente me confundiu".

Papa é popular no Twitter


A popularidade do Papa Francisco continua grande. Ele conta com quase 12 milhões de seguidores no Twitter, mostrando que o estilo adotado desde a sua posse contagiou pessoas do mundo inteiro. A simplicidade e humildade do papa são os pontos mais apreciados pelos fiéis e mesmo pessoas que não pertencem à fé católica.

Medicina: estágio obrigatório no SUS

O Conselho Nacional de Educação (CNE) quer que os estudantes de medicina passem a fazer estágio obrigatório no Sistema Único de Saúde (SUS), nos setores de atenção básica, urgência e emergência, correspondendo a pelo menos 30% da carga horária prevista para o internato da graduação.

Brasil da sensualidade abundante



O Brasil é useiro e vezeiro em exportar a ideia de país da sensualidade no estrangeiro. A exibição de mulatas sensuais sambando no saguão de aeroportos e outros eventos por anos foi fato comum na chegada ao país de algum estrangeiro famoso. Nosso clima tropical, com belas praias e natureza verdejante dá ao mundo uma ideia plena dessa imagem. O nosso próprio carnaval é o clima exato desse nosso perfil turístico, associado a visão de que "não existe pecado do lado debaixo do equador".

Por isso, o piti do governo brasileiro em relação a linha de roupas e acessórios lançadas pela Adidas em seu site norte-americano inspirada no Brasil e para promoção da Copa do Mundo soa a algo grotesco e risível sob a alegação de que a Adidas está retratando o país com conotação sexual.

Mesmo com o recuo da empresa de material esportivo, a questão não será superada. Nada impede que, como sempre ocorre, em pouco tempo, os produtos estejam disponíveis em nossas ruas, vendidos pelos camelôs livremente, diante da falta de fiscalização inexistente no país.

E, pensando bem, a imagem de um país sensual em nada desabona o país. Pior se fossemos associados à Pátria da roubalheira, da corrupção, da violência desenfreada, da impunidade, da miséria, da má distribuição da renda, dos salários aviltantes da maioria da população, dos hospitais e escolas sucateados, da falta de assistência às crianças e idosos, e muitas outras misérias que afligem muitos povos. (www.apagadordigital.blogspot.com.br)

sábado, 15 de fevereiro de 2014

O DIA EM QUE O BRASIL CAIU NO PRIMEIRO DE ABRIL (continuação 2)

Uma história de 50 anos atrás
UM GOLPE DESENHADO
DESDE O SUICÍDIO DE VARGAS

A ideia de um golpe militar no Brasil remonta há muitos anos antes de 1964.
Getúlio Vargas foi o chefe da Revolução de 1930 que depôs Washington Luiz. A ditadura Vargas ganhou maiores contornos, a partir de 1937, com a instauração do Estado Novo, apontado como um golpe dentro do movimento.

A participação do Brasil na II Guerra Mundial, com a derrota do nazifascismo, veio a enfraquecer os regimes ditatoriais, criando um clima geral pela democratização dos países. Desse modo, Vargas acaba sendo pressionado pelos ministros militares e acaba renunciando em 29 de outubro de 1945. Na eleição, em dezembro, é eleito o ex-ministro da Guerra general Eurico Gaspar Dutra, com o apoio do Partido Social Democrático (PSD) e do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB).
Em 1950, Getúlio, através do voto popular, é eleito presidente da República, mesmo sem ter o apoio de Dutra, mas tendo o apoio de Adhemar de Barros, político influente de São Paulo. O candidato da União Democrática Nacional (UDN) foi o brigadeiro Eduardo Gomes.
O governo nacionalista implementado por Vargas, com a campanha do "O petróleo é nosso", dando margens à criação da Petrobras, em 1953, gera um clima de insatisfação entre os setores conservadores. Com o  jornalista e político Carlos Lacerda, como um dos principais opositores, o governo Vargas acaba se envolvendo em uma crise institucional, quando o chefe da guarda presidencial, Gregório Fortunato, contrata um pistoleiro para matar o adversário de seu chefe, mas no atentado de 5 de agosto de 1954 acaba sendo vitimado o major da Aeronáutica Rubens Vaz. A partir daí surge um forte movimento militar exigindo a renúncia de Getúlio.
 Com o suicídio de Vargas, em 24 de agosto de 1954, abriu-se a possibilidade dos militares tomarem o poder. Mas, as grandes manifestações populares que surgiram com a morte do então líder denominado "pai dos pobres" não deu clima para esse tipo de movimento.
Desse modo, o vice Café Filho assumiu normalmente a presidência. Em outubro de 1955, Juscelino Kubitschek é eleito presidente, mas os golpistas tentam contrariar o resultado das urnas, com a alegação de que não houve maioria absoluta.
 No mês de novembro daquele ano, militares ligados à UDN, o partido de Carlos Lacerda, defendem o golpe e no lugar de Café Filho assume o presidente da Câmara dos Deputados, Carlos Luz. Arma-se o cenário para impedir a posse de Juscelino. Contudo, a posse é garantida pela ação do general Henrique Teixeira Lott, ministro do Exército, que depõe Carlos Luz, ocupando diversos prédios do governo, estações de rádio e televisão no Rio, capital da República. Provisoriamente assume o cargo o presidente do Senado, Nereu Ramos, até a posse de Kubitschek no ano seguinte.
Mesmo no governo JK tentativas de golpe surgem, sendo uma delas a de militares da Aeronáutica, mas os líderes posteriormente recebem a própria anistia por parte de Juscelino, cujo período governamental é apontado como um dos mais democráticos vividos pelo país.

Renúncia de Jânio é caminho para o golpe


Quando termina o governo Kubitschek, é eleito presidente, o ex-prefeito de São Paulo, Jânio Quadros, da UDN, tendo por principal bandeira o combate à corrupção. Ele adota algumas medidas contraditórias, entre as quais a da maior independência do país no plano externo, chegando a condecorar o líder da revolução cubana Che Guevara. No mesmo ano de sua posse, 1961, no dia 25 de agosto, Jânio surpreende o país com a sua renúncia. Para alguns analistas seria a tentativa de ganhar apoio militar e da população para retornar ao cargo com maiores poderes para governar. Mas essa estratégia não deu certo.

Com a renúncia de Jânio, seu vice, João Goulart, encontrava-se em visita à China comunista. Herdeiro de Getúlio Vargas, pertencente ao PTB (partido trabalhista), a posse de Jango começou a ser questionada pelos militares, gerando uma crise institucional. A solução foi a instauração do regime presidencialista, como forma de diminuir o poder de Goulart.

Sem apoio popular e instalado de maneira artificial, o parlamentarismo não vingou, aumentando os problemas do país. Através de plebiscito Jango recupera o poder com a volta do presidencialismo. A partir daí institui seu Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico e Social e em seguida as reformas de base (agrária, bancária, eleitoral e fiscal), com oposição do Congresso e principalmente do empresariado.

Nos anos 60, o mundo vive o clima tenso da Guerra Fria, com a bipolarização entre os Estados Unidos e a União Soviética, com a China correndo por fora. A revolução cubana cria entre os norte-americanos uma linha de endurecimento favorável a instalação de regimes ditatoriais na América Latina, como estratégia para evitar a cubanização dos países. Em total harmonia com essa linha, os oposionistas acusam Jango pelo agravamento da crise econômica e tentativa de abrir caminho para a comunização do país.




Em março de 1964, Jango promove um comício na Central do Brasil, no Rio, com cerca de 300 mil pessoas presentes, em defesa das reformas de base tidas como essenciais para tirar o país de sua situação de atraso e sobretudo opressão das camadas menos favorecidas da população.
A reação dos conservadores surge dias depois, em São Paulo, com a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, com cerca de 200 mil pessoas.

O país vive uma situação de crise. Os conspiradores que organizavam o golpe militar, com o apoio civil dos governadores do Rio, Carlos Lacerda; Minas Gerais, Magalhães Pinto; e São Paulo, Ademar de Barros, pretendiam deflagrar o movimento em abril. Contudo, em Minas Gerais, o general Mourão Filho precipita as ações, deslocando tropas em direção ao Rio na madrugada de 31 de março para 1º de abril, tomando a cautela de que o movimento não ocorresse no chamado dia da mentira, com conotações pejorativas.

31 de março ou 1º de abril, o grande fato é que a ação militar foi o início de um grande período de ditadura que se instalou no país. É uma história que completa 50 anos agora em 2014.


História do golpe: correções do Rogério Marques

 É com prazer que registro os comentários do amigo jornalista
 Rogério Marques, sobre o texto O dia em que o Brasil caiu no
primeiro de abril, fazendo valiosas correções, inclusive a do nome
certo do supermercado do Riachuelo (quando escrevi tive a impressão
de que a memória estava me falhando), as Casas do Charque. Eis o
registro do vizinho Rogério, do bairro do Rocha, na época do golpe:
 Rogério Marques



  de fevereiro de 2014 13:40
Muito bom seu artigo. Rapaz, eu lembro muito daquela vila
de gays perto do açougue do seu Miguel, na Rua 24 de maio,
entre Rocha e Riachuelo. Era uma vila pobre, de quartos, que
uns chamavam de cabeça de porco e outros de vila das flores,
em alusão aos gays. Pertinho ficava o pequeno bazar do seu
Rachid, um sírio, que tinha três filhos, um deles era o Nicolau.
Lembro que o primeiro supermercado que abriu na região foi a
Casas do Charque, que depois dariam origem às Casas da Banha,
parece que ambos eram do Climério Veloso. Maurício, vale apenas
corrigir uma concordância na seguinte frase: "A criançada das escolas
formaram fila para receberem." Em vez disso, "a criançada das escolas
formou fila para receber." Parabéns, amigo, muito legal.
Rogério Marques
Rogério Marques15 de fevereiro de 2014 13:42
Na vila das flores havia um alfaiate chamado
Aloísio, que morava em uma das últimas casas
à direita de quem entra, gente boa, fazia calças,
camisas e reparos para muita gente na região.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

O DIA EM QUE O BRASIL CAIU NO PRIMEIRO DE ABRIL - 1



Uma história de 50 anos atrás

O RIACHUELO
ESPERA PELA BATALHA


Antes da deflagração do movimento militar de 1964 deflagrado, em Minas Gerais, pelo Marechal Mourão Filho, na madrugada de 31 de março para 1º de abril, muitos rumores sobre o possível golpe era fato corriqueiro entre muitas pessoas.
Na pacata e bem arborizada rua Marechal Bittencourt, no bairro do Riachuelo, subúrbio da Central do Brasil, residia o comandante do Exército, General Jair Dantas Ribeiro, então adoentado e de certa maneira afastado diretamente do cargo. Isso não impedia que no cair da noite muitos carros oficiais se dirigissem em direção à residência do velho militar. No Riachuelo, comentava-se que o próprio presidente João Goulart integrava a comitiva.
Quem conhece bem a linha da Central sabe que o Riachuelo é um bairro que vem antes do Méier, sem dúvida, ainda hoje o mais movimentado, entre as chamadas primeiras estações, que entre outras inclui São Cristóvão, São Francisco Xavier, Rocha e depois o próprio Riachuelo e espremido entre a ferrovia o bairro do Sampaio.
No início dos anos 60, os moradores do Riachuelo começavam a se achar especiais, em relação, aos da acanhada vizinhança mais pobre. Os primeiros edifícios com muitos andares foram erguidos lá. Também surgiu o primeiro banco comercial (antes se restringiam ao Centro da Cidade) e aos grandes bairros como Méier e Madureira. A criançada das escolas formaram fila para receberem uma latinha chamada de cofrinho do Banco da Lavoura de Minas Gerais.
Também foi no Riachuelo que surgiu o primeiro supermercado, desconhecidos na área do subúrbio (praticamente existiam somente na Tijuca e zona sul). O povão se concentrou à noite para o show de inauguração e nas primeiras horas da manhã, formaram-se filas em disputa dos inéditos carrinhos, no qual se colocavam as compras e diretamente levava-se as mercadorias em direção às caixas para efetuar o pagamento. Com o supermercado Disco, o Riachuelo matava de inveja a vizinhança, especialmente, o Sampaio, que concentrava a população mais pobre e possuía o Morro Quieto, com seus barracos de madeira e maioria de população negra. Lá foi que a Polícia foi cercar o bandido Miguelzinho, que para não ser morto foi resgatado pelo Padre Alexandre Língua, da Paróquia de Nossa Senhora, no Engenho Novo, nas imediações do Buraco do Padre, um espaço de travessia abaixo da linha do trem (a estação do Engenho Novo fica em uma parte elevada, no início de uma subida para o Méier e Lins de Vasconcelos). Miguelzinho se rendeu ao padre, acompanhado de sua mãe, em um tempo que bandido bom não era ainda bandido morto.
No início de um certo apartheid do subúrbio, o Riachuelo também reabriu um antigo e falido Cinema Modelo, com o nome de Cine Riachuelo, passando a dar uma nova opção de lazer aos moradores (antes a opção era o deslocamento para o Méier ou Centro da cidade). Lá apareceram também os primeiros gays, mas que possuíam outro nome, concentrados nos fundos do açougue de um tal de Miguel que os abrigava.
Quando o golpe militar foi desencadeado, a população do Riachuelo correu na manhãzinha do 1º de abril para a Rua 24 de Maio, a principal da área, que começa nas imediações do Rocha indo até o Méier, desembocando na Dias da Cruz e Amaro Cavalcanti que é a sua continuação com outro nome.
Caminhões passavam lotados de trabalhadores que gritavam estar indo em direção ao Palácio Guanabara para "tirar o Lacerda da cama". O governador da Guanabara era um dos líderes civis da derrubada do presidente João Goulart, articulada com o governador de Minas Gerais, Magalhães Pinto (dono do Banco Nacional, que tinha um guarda-chuva como símbolo, significando a proteção de seus clientes) e o de São Paulo, Ademar de Barros, ironizado pelo povão com o slogan "rouba mas faz".
A rádio de resistência do governo Goulart era a Mayrink Veiga, mais ainda que a emissora oficial a Rádio Nacional, enquanto a rádio Globo tinha maior sintonia com o governador Lacerda.
Na Mayrink eram entoadas marchas de resistência ao golpe e falava-se do Movimento da Legalidade deflagrado no Sul do país pelo governador do Rio Grande, Leonel Brizola. "Avante brasileiro avante! Unidos pela Liberdade, nós somos a Legalidade".
Mas, de repente, as transmissões da Mayrink Veiga cessaram e foram tomadas pelas da Rádio Globo, na qual o governador Carlos Lacerda saudava a "Revolução Redentora" que estava salvando o Brasil da anarquia e do comunismo. Adversário ferrenho do ex-ditador e presidente Getúlio Vargas, Lacerda acreditava que o movimento militar viria para instaurar um "verdadeiro" regime democrático no país, sem a participação dos chamados "inimigos da pátria", em sua concepção os adversários mais fortes para as eleições presidenciais de 1965 - o ano seguinte - na qual o ex-presidente Juscelino Kubitschek despontava como o principal concorrente. A partir dali a meta seria tirar Kubitschek do caminho para o Palácio do Planalto. O que Lacerda não contava é que mais tarde, ele também teria a "cabeça cortada" pelos militares.
De certa forma, como grande parte da classe média que começava a despontar, o Riachuelo estava do lado do golpe militar, com exceção do chamado povão, mas esse, como sempre, olhava apenas de longe a escaramuça política, como quem se acostumou a não acreditar em 1º de abril.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Pedras na Liberdade





                                               (À memória do cinegrafista Santiago Ilídio Andrade)


Eu nunca joguei pedra na Liberdade
porque vivi na ditadura
e sei como é difícil jogar pedras no autoritarismo
quando se tem as mão decepadas,
a boca vendada e a mente censurada

Eu nunca joguei pedra na Liberdade
porque sei o alto preço
da paz e da morte
de muitos conhecidos que foram
cruelmente riscados do mapa

Eu que como tantos outros
sobrevivi aos tempos sombrios
em que andávamos
paralisados em cadeiras de rodas
sem termos para onde ir

Hoje não tenho coragem
e muito menos o direito
de jogar pedras
na Liberdade

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Queima-se gente

Um gravíssimo acidente que vinha sendo anunciado foi o que atingiu o cinegrafista da TV Bandeirantes. Qualquer manifestação de rua é fruto de um confrontamento entre policiais e grupos que fazem a opção pelo enfrentamento como forma de contestar o chamado status quo, mesmo que esse tenha sido, em parte, legitimado pelo processo democrático.

Análises ideológicas, à parte, o grande fato é que temos instituído uma cultura do foguetório, pela qual quanto mais barulho melhores são nossos argumentos. É uma espécie de que ganha quem fala mais alto, quem grita mais, quem esperneia, quem solta o verbo, de preferência acompanhado de muitos palavrões. Carros de som perturbam o sossego das pessoas, trafegando com alto-falantes possantes anunciando o mais diversificado tipo de produtos, desde a goiabada de Petrópolis até a oferta sensacional de uma de nossas Casas comerciais que não se contentam com os encartes nos jornais e propagandas no rádio e televisão, passando pelo mundo da internet.

Nem o Natal, antes festejado com humildes presépios e árvores multicoloridas por luzes e neve de algodão fugiu ao bombardeio geral. A que se tornou tradicional queima de fogos em Copacabana se espalhou pelas demais praias da cidade, ganhando filiais em outros estados, e, ação de particulares que por conta própria soltam os seus rojões infernizando a vizinhança na comemoração do nascimento do menino-Deus.

De vez em quando, uma fábrica clandestina de fogos explode, gerando pânico, acompanhada da notícia pelas autoridades do rigorosos inquérito que de praxe duram de 15 até 30 anos, como na esperança de que o assunto acabe sendo superado por um novo e esquecido por todos. A afirmação da rigorosa punição aos culpados também passa a ser apenas figura de retórica.

Em um país, no qual a bandidagem tem acesso facilitado a todo tipo de armamento, o cidadão comum também tem como brinquedo a compra de fogos de artifício, bombas e rojões na quantidade que bem desejar, não precisando prestar contas a ninguém em torno da utilização de seu arsenal bélico.

Como o coquetel Molotov, inventado por um general russo, já não fazia os efeitos pirotécnicos ideais para a nossa guerrilha urbana transmitida via televisiva, como uma espécie de guerra do Golfo, alguém teve a "brilhante" ideia de trazer para a praça o multicolorido rojão com que o Estado festeja a chegada de um novo ano diante de seus súditos embasbacados.

Queima-se fogos, queima-se estoque, queima-se dinheiro e agora queima-se gente.


quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

O eterno ódio aos Capitães da Areia

Capitães da Areia é um romance de autoria do escritor brasileiro Jorge Amado, publicado em 1937. A obra conta a história de um grupo de menores abandonados, chamados de "Capitães da Areia", que cometiam uma série de delitos na cidade de Salvador dos anos 30, sendo censurada pelo Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) da Ditadura Vargas, durante o Estado Novo, por conta a situação de abandono de um grande número de crianças no país.
Passados 77 anos, e em um novo século, no qual o Brasil ocupa entre o quinto e sexto lugar como maior economia do mundo, a dura realidade tanto em nossas grandes e pequenas cidades, incluindo o campo, é a existência, ainda, de um universo de crianças e adolescentes largada à própria sorte totalmente excluída do "milagre" brasileiro de nosso combalido sistema democrático.
Como ocorre no livro de Jorge Amado, esses filhos da miséria despertam ódio em grande parte da sociedade.
Os Capitães da Areia é um grupo de meninos de rua. São crianças abandonadas e marginalizadas que aterrorizam Salvador. As que são pegas são levadas para Reformatório onde convivem com todo tipo de crueldade e nas ruas são implacavelmente caçadas pela polícia.
A lição do Estado democrático é a da total inclusão dessas crianças abandonadas. E isso se dá por meio de Educação de qualidade, dando a elas acesso a uma escola integral (muitas não possuem família) e paralelamente a assistência às famílias permitindo que saiam do estado de miséria, possuindo melhores condições de criação dos filhos.
Um país com déficit de mais de 12 milhões de moradias (sem incluir na conta os casebres e palafitas existentes em várias áreas), com pífio número de residências com acesso ao saneamento (por si só fonte de extermínio de crianças, jovens e adultos), com sistema de saúde caótico (por si só instrumento social de eliminação dos mais miseráveis) está muito longe de uma Democracia voltada para a solução dos graves problemas sociais.
Por outro lado, há a opção do Estado fascista, de simplesmente eliminar pela força os que "contaminam" a sociedade voltada para o progresso, a alegria e o a não inclusão dos marginalizados.
A história de Amado, pelo visto, continua atual e o caminho da solução diz respeito a consciência de cada um. O extermínio parece ser o mais fácil.

                                Cena do filme Capitães da Areia