Mauricio Figueiredo

Educação, recursos humanos e o melhor do et cetera

domingo, 24 de fevereiro de 2013

A criança sem limites

Um dos grandes problemas que as escolas, tanto públicas como privadas, enfrentam na atualidade
diz respeito ao agravamento da indisciplina em sala de aula e fora dela. Notícias de agressões aos
professores e entre os próprios estudantes, no que se convencionou chamar de bullying (a violência
conforme o termo inglês, mostrando ser este um problema mundial), são constantes.

Na avaliação de alguns estudiosos, o problema aumentou em tamanho diante da própria permissividade da sociedade. Há os que culpam os meios de comunicação, que por sua vez se defendem alegando apenas reproduzirem o que existe na prática e não pode deixar de ser noticiado. Outros apontam os próprios governantes e legisladores como responsáveis, diante da frouxidão das leis ou mesmo pelo fato de não serem cumpridas.

Nos Estados Unidos, a questão da criança sem limites foi atribuída ao médico e educador Dr. Spock,
com orientações no sentido de os pais não tolherem o comportamento dos filhos, a fim de que não
fossem vítimas de traumas futuros. Muitos psicólogos também engendraram por este caminho e a
chamada Geração Spock passou a ser vista como aquela que podia tudo ser ser contestada.

A diluição da família tradicional, com o crescimento das separações entre os pais, trouxe um novo
complicador, como o fato de crianças criadas sem a presença da figura paterna, com as mães 
exercendo dupla função. A ausência do pai, em muitos casos, passou a ser justificativa para a
cumplicidade materna em relação a desobediência dos filhos. Também se fala das crianças criadas
ou sobre influência direta dos avós, que colocam os netos como verdadeiros "príncipes" e "princesas"
que têm todas as vontades obedecidas.

Há também o caso das empregadas domésticas ou babás, muitas responsáveis direta pelo maior
contato com as crianças, mas sem que tenham formação ou preparação adequada para este tipo
de convívio. E, por fim, o mundo fantástico da televisão e demais eletrônicos que passam a ser os
reais formadores do caráter e comportamento da criança, adolescentes e jovens em geral.

Instituições como as escolas e igrejas, que no passado exerciam grande influência, parecem perder
força diante desse novo maravilhoso mundo novo de luzes e entretenimentos que em 24 horas rodeiam a criança.

São brinquedos e mais brinquedos que se tornam accessíveis (inclusive distribuídos em redes de fast
food associando perigosamente alimentação com o lúdico) e consumidos rapidamente pela criança.
Esse consumismo é feito com a destruição sistemática do brinquedo que logo dará lugar a um novo,
muitas vezes caros, com o sacrifício de parte da renda dos pais, e sem qualquer sentido pedagógico.
No mundos dos heróis e super heróis, o menino e no caso das meninas, das bonecas que são cópias
das mulheres atraentes que precocemente precisam se transformar, a criança encontra total falta de
harmonia entre os ensinamentos (quando isso chega a ocorrer) dos pais e a chamada modernidade.

As refeições deixam de ser feitas na mesa, na qual a família pode dar início a uma conversação, estabelecer um diálogo. A comida que é uma réplica do que a criança se acostumou a ter fora de casa é composta por alimentos gordurosos, salgados, super doces, etc, em detrimento de nutrientes essenciais para o bom desenvolvimento. Com isso, cresce assustadoramente o número de crianças obesas, que determinam aos pais o que deve ser feito no almoço ou no jantar e se recusam a comer o que lhes é oferecido.

Tudo isso depois se reflete no ambiente escolar e na própria vida em sociedade. O princípio da autoridade que não é exercido dá lugar a uma falsa liberdade que surge mais como libertinagem e desrespeito total às leis e aos direitos do próximo. Não se respeitam os sinais, as faixas de segurança nas travessias, a s lugares dos idosos nos coletivos, etc.

As religiões - que em sua maioria, colocam a autoridade ou o respeito ao próximo como base de sua
essência - passam a ser letras morta em um mundo em que pais deixam, pelos mais variados motivos,
de exercerem efetivamente o papel de educadores dos filhos.

Estabelecer limites para as crianças, passa a ser, antes de tudo, uma forma adulta de respeitá-las e prepará-las para uma sociedade que temos obrigação de tornar melhor.